Gestos pela vida
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) advertem que, em cerca de 20 anos, os acidentes de trânsito matarão bem mais pessoas no mundo, principalmente jovens, do que a aids. Na comparação com as guerras, não é diferente. Para lembrar, o conflito do Iraque vitimou 40 mil pessoas nos três primeiros anos, o mesmo número de mortes no trânsito brasileiro, mas em apenas um ano. O retrato desse morticínio interminável é muito parecido nas principais capitais brasileiras, abarrotadas cada vez mais de carros. Em Porto Alegre (1.436.123 habitantes), com uma frota já de 700 mil veículos (2,05 habitantes por veículo), nos últimos nove anos ocorreram 206 mil acidentes, com 64 mil feridos e 1,4 mil mortes, a metade por atropelamentos, muitos sobre faixas de segurança.
Na educação, uma boa notícia. O gesto da mão estendida diante da faixa de segurança pode se tornar lei nacional. Está para ser votado no Senado. Simboliza um ato de melhoria e confiança nas relações dos cidadãos no dia a dia da circulação, em que o pedestre será sempre a parte mais fragilizada. Todos, poder público e população em geral, somos responsáveis por um trânsito mais seguro, harmonioso. Que um novo momento comece pela real tomada de atitude de cada um de nós, em favor de um maior respeito e valorização da vida.
Por trás dos números, frios diante de uma realidade que deveria atormentar a consciência de cada cidadão deste país, encontra-se um quadro de dor, mutilações, desespero pela perda de entes queridos, sofrimentos intermináveis em leitos hospitalares, prejuízos econômicos para familiares, para o Estado. Segundo o Denatran, o custo de acidentes de trânsito no Brasil representa R$ 28 bilhões ao ano, muito dinheiro, muitas vidas que se perdem.
De uma vez por todas, esta guerra absurda precisa acabar. E depende de cada um de nós, ainda mais que a maioria dos acidentes acontece por falha humana. O caminho por uma mudança de cultura no trânsito passa por uma fiscalização cada vez mais intensa, implacável contra o excesso de velocidade, contra o desrespeito aos limites impostos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB); contra embriaguez ao volante, fato indesculpável; em investimentos em engenharia, com ruas e estradas mais qualificadas e seguras; e em muitas ações e campanhas permanentes de educação para o trânsito. Na EPTC, daremos continuidade à campanha do Novo Sinal de Trânsito; realização de cursos de aperfeiçoamento e atualização dos agentes de fiscalização, autênticos cuidadores do trânsito; intensificaremos ações educativas envolvendo os motociclistas, já no processo de adaptação às exigências da Lei Federal 12.009/2009; de qualificação dos condutores dos sistemas de táxi, lotação e ônibus; ações para garantir o transporte seguro de crianças (resolução nº 277 do Contran), além de blitze com foco maior no "Se beber, não dirija", entre outras medidas para uma circulação mais segura.
Romano Botin
Secretário da Mobilidade Urbana de Porto Alegre