As doenças aumentam

08-08-2010 11:56

 

Desafiamos os rumos da industrialização e mostramos que as mudanças necessárias para proteger a saúde individual são mais profundas do que uma modificação no estilo de vida.

É comum pensar que o meio mais certo para melhorar a saúde do pobre é um aumento em sua riqueza individual. Mas a busca cega de crescimento econômico pode levar a caminhos estranhos e doentios. Acidentes de trânsito, por exemplo, aumentam o Produto Interno Bruto, pois gastam dinheiro tentando recompor carros e pessoas. Poluir e despoluir também contribuem para nossa economia, mas nem tanto para nosso bem-estar físico.

Atualmente, os gastos crescentes com tecnologia sofisticada, para atender a doença, não representam uma melhoria de saúde. Os métodos fascinantes de cura e "salvamento"— característicos da medicina moderna — estão finalmente sendo vistos de forma mais realista. Começamos a perceber que a melhor maneira de controlar a maioria de nossos problemas de saúde consiste em modificar a situação presente.

Está muito claro que nosso principal problema de saúde é conseqüência da busca indiscriminada do crescimento econômico. Existe um conflito fundamental entre a produção de "riquezas", como é normalmente definida, e a promoção da saúde. Não tem sentido seguir diretrizes sociais e econômicas que ignoram — ou até mesmo aumentam — os riscos da saúde. No entanto, na maioria das sociedades industriais, é exatamente isto que estamos fazendo. Nossa idéia de progresso social, e as muitas diretrizes que adotamos para atingir este progresso, são, na verdade, tentativas de conseguir um aumento indiscriminado na produção e no consumo de bens materiais.

As diretrizes industriais, agrícolas e comerciais, geralmente não fazem distinção entre produtos socialmente úteis e "saudáveis" (como os alimentos integrais) e produtos prejudiciais (como o cigarro e alimentos super refinados, como a farinha branca). A Noruega é um dos poucos países que tem uma política mais séria — uma política que leva em consideração o que é produzido e quanto é produzido.

Mortes e traumatismos por acidente de trânsito, doenças relacionadas ao estresse, provocadas pelo cigarro, alcoolismo, obesidade, cáries dentárias, e assim por diante, são cada vez mais reconhecidas como subprodutos indesejáveis, mas inevitáveis na busca freqüente do desenvolvimento econômico. Em lugar de produzir os bens que realmente necessitamos e bens duráveis, cada vez mais produzimos mercadorias desnecessárias — e até planejamos sua rápida obsolescência. Produzindo e transportando mercadorias desnecessárias, contribuímos ainda para os acidentes e, cada vez mais, aumentamos os riscos de saúde devidos a poluentes industriais.

A tabela abaixo agrupa as doenças e os acidentes da era moderna por categoria econômica, numa tentativa de chamar a atenção sobre o conflito entre a saúde e a busca indiscriminada do crescimento econômico. Esse tipo de classificação deixa claro quais as pesquisas e medidas de prevenção necessárias. Porém, a prevenção tem que ser direcionada para as causas básicas. Campanhas e atividades preventivas, que parecem boas, podem estar erroneamente dirigidas contra sintomas e conter apenas advertências inúteis. Por exemplo: advertências moralistas e puritanas que incentivam as pessoas a "apertarem o cinto", a modificar seu estilo de vida, a parar de fumar, a comer menos, a fazer exercícios, a dirigir com cuidado etc., têm pouco resultado. Apenas desviam a atenção das diretrizes e práticas que realmente produzem o estresse e os riscos. A tabela mostra para onde devemos dirigir nossa atenção a fim de eliminar ou reduzir as condições que levam as pessoas a viver mal.

Depois de reconhecer o conflito entre saúde pública e a busca indiscriminada de crescimento econômico, precisamos mudar nossas metas sociais e econômicas. Precisamos integrar a política econômica, a política social e a política de saúde, em vez de colocar as considerações econômicas em primeiro lugar e criar, desta forma, problemas de saúde e problemas sociais. Por exemplo, as diretrizes para a indústria e para o transporte são, em parte, diretrizes para a saúde (ou antes contra a saúde). Precisamos mudar nossa maneira de pensar que as diretrizes para os serviços de saúde constituem diretrizes adequadas para a saúde da população.

A solução para esse problema está na criação de tecnologia alternativa, ao invés de tecnologia avançada e cara que, freqüentemente, desperdiça energia, gera desemprego e poluição. A solução está também numa abordagem biológica e ecológica para a agricultura, nutrição e medicina, ao invés da simples abordagem química e de engenharia. O mais importante é reconhecer que o comportamento da economia atual, tanto nos países industrializados, como nos países subdesenvolvidos, está causando acidentes, doenças e mortes em escala crescente, bem como problemas com a poluição e recursos não-renováveis.

Existe nítida relação entre diretrizes econômicas que trazem benefícios ecológicos e diretrizes econômicas que favorecem a saúde pública. Por esse motivo, estão se formando novas associações e grupos de pressão. Estes grupos são indispensáveis. As perguntas certas, a respeito da sociedade que estamos criando, precisam ser divulgadas. Poucas pessoas se beneficiam dessa espécie de desenvolvimento que fomenta acidentes e doenças.


Proiet-Projeto Iternacional de Educação para o Trânsito Desenvolvido por Tânia Ochi